"Porque haverá bom futuro e não será frustrada a sua esperança”. Prov 23:18

Reflexões sobre a Tragédia da Região Serrana



Na semana passada,depois de chorar muito ao ouvir as notícias da Tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro,e ler uma frase que dizia: Para que o mal prevaleça, basta que os bons não façam nada, resolvi aceitar a convocação da Ong SOS Global e fui para Teresópolis para ajudar os desabrigados e enlutados. O centro da cidade, apesar de estar com o trânsito confuso, não parecia muito diferente da normalidade.Ficamos alojados na Igreja Batista Central onde estavam abrigadas cerca de 65 pessoas. Cada uma narrando a sua desgraça particular. Na hora do banho ouvi certa vez uma moça dizer: eu perdi 08 da minha família, e a outra disse: no total entre primos e tios eu perdi 15.Meu coração doía e o choro ficava preso na garganta. Eu me senti impotente,pois não podia ajudar em nada e muitas vezes nem mesmo ouvir os relatos , tamanha foi a desgraça que se abateu sobre aquelas pessoas.O nosso grupo foi para os abrigos para fazer recreação com as crianças, pois os alojados reclamavam que as crianças não paravam de correr por cima dos colchonetes espalhados pelo chão do galpão, onde mais de 300 pessoas dormiam. Conversamos com as crianças que logo começavam a narrar às cenas da tragédia sofrida. Lembro-me de uma menina de 08 anos de idade que me falou que estava ali porque a chuva havia levado a casa dela e sua irmãzinha de apenas 01 mês de idade. Muitas histórias contadas por eles pareciam inverídicas, ou cenas retiradas de filme de terror. Muitas das crianças disseram que agora ali era sua nova casa, pois a outra havia desabado. Pareciam até estar gostando do local por ter comida e diversão todo dia.Não sabiam da dimensão do problema que suas famílias estavam enfrentando. Partimos no dia seguinte para um local chamado Poço dos Peixes. Fomos com uma equipe de médicos e enfermeiros pra vacinar os moradores contra tétano. Mas neste lugar, havia poucos moradores. Eles haviam morrido ou se mudado com medo de novos deslizamentos. Após caminharmos por mais de 15 minutos por uma estrada lamacenta que cobria o asfalto ali existente, encontramos uns bombeiros, em cima de um morro de entulho e lama, cavando para encontrar corpos. O irmão de uma vítima não se conformava em saber que sua família, irmã, cunhado, sobrinho,estavam ali soterrados naquele local.Com a ajuda de uma cadela preparada pra esta missão acharam os corpos. Ao subir esta rua que agora tinha água do rio escorrendo sobre o asfalto,como tivesse errado o seu curso natural, podíamos ver ali, sapato de criança, colheres, roupas e toda uma comunidade destruída pela fúria das águas. Logo os bombeiros começam a cavar o chão e aparece parte do corpo de uma mulher.Junto à criança retiraram um cachorro que estava preso à corrente. Neste momento não resisti e me senti muito mal. Parece que me faltavam forças para ficar de pé. Fiquei pensando que eu não tinha parentes nem amigos que foram mortos pela tragédia. Mas doía muito ver tantas vidas ceifadas. O irmão da vítima ia pegando os documentos da família e guardando qualquer lembrança que lhe fosse preciosa.
No dia seguinte partimos para Vieira. Um local que fica na estrada que liga Teresópolis a Friburgo. Lá a desgraça parecia até maior.Ficamos nuam casa que nos foi cedida por uma moradora que não nos cobrou nada.A casa não tinha luz, mas um dos nossos amigos conseguiu trazer um fio de energia não sei de onde.Nas ruas em volta não via um poste em pé. Um local pequeno com poucos moradores, onde todos são amigos e parentes.Nesta localidade todos moradores perderam ao menos um membro da família. Todos estavam tristes pelas perdas de familiares e de seus bens.Eles me levaram até a beira de um rio e falaram que há apenas uma semana atrás aquilo era um córrego de 1 metro de largura, mas agora havia se transformado numa forte correnteza, com pedras de até 3 metros de altura. O exército apareceu por lá e construiu uma ponte, pois agora era necessário para atravessar para o outro lado. Fomos a algumas casas que tiveram seus móveis arrancados para longe e ficaram cobertas de lama até quase o teto.Ajudamos a limpar com pás, enxadas e muito trabalho. Mesmo após todo trabalho, a sensação que tinha era que ainda faltava muito, pois a destruição foi incalculável. Todas as pessoas que conversávamos falavam sempre a mesma coisa: ouvimos vários estrondos,como se fosse bomba explodindo, e a água subiu muito rápido sem que desse tempo de fazer nada. Na igreja Batista de Vieira fiquei assustada com o número de mortos. Numa igreja que não tem mais de 50 membros, 12 morreram. Mas pude ver a fibra do Pastor e sua esposa que eram incansáveis em socorrer às vítimas.Vi tanta gente boa,que cedeu suas casas para abrigar vizinhos e parentes.Após uma semana de trabalho me senti cansada física e emocionalmente. Agora em casa fico refletindo sobre a tragédia que se abateu sobre aquela comunidade. Eles dormiam descansados sem ter a idéia de que suas vidas seriam mudadas pra sempre. Assim é a nossa vida. Não temos controle sobre o inesperado. Só peço a Deus misercórida por aquelas vidas pois ainda pretendo voltar pra ajudar mais aquele povo, pois creio no que a Bíblia diz:Bem aventurado aquele que socorre o pobre, pois o Senhor o livrará no dia do mal.

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